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De um café em Melbourne, na Austrália, o web designer alemão Kai Brach produz, desde 2012, uma das revistas de maior sucesso no universo das publicações indies, a “Offscreen”. Ele faz praticamente tudo sozinho: das pautas ao layout. Com uma tiragem de 5 mil exemplares e distribuição global, presente nas principais bancas do planeta — a Do You Read Me?, em Berlim, a Paper Cut, em Estocolmo, e a Casa Magazines, em Nova York, são algumas delas —, a “Offscreen” tem um enfoque um tanto curioso: trata-se de uma publicação impressa que fala sobre os personagens mais brilhantes do universo digital. O motto? The human side of technology. Já estamparam capa e miolo da revista, que é quadrimestral e está em sua 16ª edição, personagens como Daniel Weinand, criador da plataforma de compras online Shopify.com, e Amy Webb, fundadora do Future Today Institute. A ideia nasceu de um crowdfunding bem-sucedido e hoje quem paga a conta do papel são empresas digitais como Google, MailChimp e Adobe. “Muita gente quer fazer revista hoje em dia”, diz Kai. “Não sei se é exatamente um movimento novo. Imprimir ficou mais acessível, então há mais gente se arriscando no negócio.” Tanto é verdade que Kai também está à frente da Heftwerk, uma plataforma digital focada em auxiliar pessoas a planejar, criar, produzir e distribuir sua própria publicação.
Também alemã, Ricarda Messner é o nome por trás de duas publicações que viraram febre: a “SOFA”, focada na geração Z, aquela nascida entre meados dos anos 1990 e início dos 2000, e a “Flaneur”, que neste mês chega ao sétimo número. A receita da “Flaneur”, de tão simples, tornou-se genial: a cada edição, Ricarda e equipe se mudam durante sete semanas para alguma cidade no mundo. O período serve para dissecar a cidade de cabo a rabo até chegarem a uma rua — sim, uma única rua — que será o tema do próximo volume. A que será lançada neste mês tem como foco a 13 de maio, no tradicional bairro paulistano do Bixiga. Os exemplos acima, dois de centenas, quiçá milhares, servem para ilustrar a efervescência em que o mercado editorial independente se encontra. Estão conseguindo provar que a crise da mídia impressa não é bem uma crise de plataforma, mas de modelo de negócio. Com periodicidade e tiragem menores, público nichado e ousadia editorial, esses novos títulos muitas vezes são criações de uma só pessoa e incluem outras formas de entrega de conteúdo a seus leitores e patrocinadores, a exemplo de feiras, conferências, lojas temáticas e coleção de livros. O fato é que se tornaram itens indispensáveis para leitores ávidos por conteúdo original e de qualidade. “Textos bem-escritos e apurados são a chave do sucesso, o meio como você vai distribuí-los é algo secundário na minha opinião”, diz Ricarda, que tem 27 anos.
Mas, diferentemente do digital, onde tudo acontece muito rápido e normalmente sem uma pesquisa aprofundada, no impresso temos mais tempo para elaborar, editar, revisar, ler e reler. E por isso ele é tão valioso.”
Falando entre iguais
Uma das chaves para o triunfo dessas publicações é o público a que elas se destinam. Diferentemente dos títulos tradicionais, essas revistas focam seus assuntos em temas específicos e criam comunidades fortes em torno disso. Espécie de clubes em que todo mundo quer entrar. Assim como usar um boné da Supreme ou uma jaqueta da Acne pode ajudar o indivíduo a construir a sua personalidade social, carregar uma revista como essa debaixo do braço também reforça o clã a que ele pertence. E aí, ler no iPad ou no Kindle não ajuda em nada nessa contextualização social.
É o caso do próprio “MECAJournal”, que está em sua décima edição se consolidando como um objeto de desejo e canal de apoio fundamental para os outros projetos do MECA. Outro exemplo é a “Suitcase”, uma revista de experiências de viagem produzida em Londres e que tem como fundadora Serena Guen, 27, dona de uma agenda poderosa do novo who’s who global. “Além da revista, atualmente temos uma agência que auxilia marcas de viagem a se comunicar melhor com os seus clientes”, conta. “Também promovemos eventos físicos e lançaremos uma pop-up store neste próximo verão londrino.”
A mais de 10 mil quilômetros dali, em Kuala Lumpur, capital da Malásia, Kerol Izwan buscou inspiração em títulos como “Cereal” e “Kinfolk”, ambas bastiões desse movimento indie, para colocar no mercado, dois anos atrás, a elegante e minimalista “Musotrees”, também focada na jornada de viajantes pelo mundo. Com uma tiragem de mil exemplares e periodicidade semestral, acabou de chegar a sua terceira edição. “Na Malásia ainda não temos um mercado estabelecido de revistas independentes”, diz. “O impresso é importante, mas por aqui ainda fazemos um trabalho de formiguinha. Muitas pessoas ainda sequer têm ideia da existência desse universo.”
De volta a Berlim,  o epicentro global das mais inventivas e disruptivas e publicações, o editor James Guerin, da “Berlin Quarterly”, conclui: “Há um movimento genuíno da volta de uma maneira mais relaxada e concentrada de leitura”, afirma. E continua: “Vivemos em uma era de sobrecarga de informações, e as pessoas estão voltando ao simples prazer de sentar-se para ler um livro ou uma revista. O olhar, a sensação de manusear uma publicação impressa oferece uma experiência diferente e muito mais satisfatória e profunda do que ler algo online”.

Print renaissance
Três títulos que você precisa ler
1- Cada edição da Flaneur é dedicada a uma rua do mundo. A próxima é a 13 de Maio, no Bixiga, em SP.
2- Para quem adora mergulhar em longas histórias, a Berlin Quarterly traz artigos surpreendentes sobre artes e literatura.
3- A Mushpit contém doses cavalares de bizarrices e delírios criativos de millennials londrinas que não têm medo de serem incompreendidas.


Tyler Brûlé, fundador e publisher da “Monocle”, conta como vê o futuro dos impressos.

Que tipo de revista vai sobreviver?
As que investem em bom papel, boa impressão e jornalismo de qualidade, seja ele mundano ou intelectual. Outro problema: boa parte das revistas está dentro de empresas geridas por executivos que só sabem cortar custos e nunca ter ideias desafiadoras.
Como publisher, onde planeja estar daqui a uma década?

Publicando revistas, livros e, quem sabe, um jornal. Ser reconhecido como um editor que decidiu ficar e fora dessa onda digital e provar que sua aposta foi correta. Mas se nada disso der certo, vou montar um hotel nos alpes da Itália, alimentar cabras e escrever livros.
Revistas ainda podem fazer alguma diferença no mundo?
Revistas já fazem a diferença. A “The New Yorker” faz, assim como a “Der Spiegel” e a “The Economist”. O problema que revistas sofrem é que o sistema está quebrado — editores perderam a coragem e a venda avulsa vive um estado lamentável em que bancas se tornam lojas de sim cards.

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