Uma viagem para dentro
Para Lourenço Bustani, cofundador da Mandalah, a busca por propósito é uma resposta a um modus operandi de ambições exageradas e sem cuidado com o outro.

Lourenço Bustani, 37, tem uma palavra que o norteia: impecabilidade. “Não é perfeição, de forma alguma. É fazer o meu melhor com os recursos que eu tenho, com zelo, com coragem, com disciplina”, diz. É esse mantra que ele aplica no seu dia a dia e nos seus projetos. Hoje, são três em andamento. A Mandalah é uma consultoria de inovação cujo objetivo é fortalecer empresas gerando impacto positivo para a sociedade (GM, Nike, C&A e Hospital Sírio-Libanês foram ou são clientes). Já a HED (Human Experience Design) busca tirar as pessoas de suas zonas de conforto por meio de festas (caso da balada matinal WAKE), retiros e workshops. A Diálogos, por fim, é uma prática de mentoria para jovens.
Palestrante do MECAInhotim, que acontece nos dias 7, 8 e 9 de julho em Brumadinho (MG), a impressão é de que Lourenço pode falar sobre qualquer assunto. Muito provavelmente porque ele segue o que prega: “Minha única dica é: nunca pare de investigar quem você é. Quando você se conhece, as respostas para todas as perguntas vêm naturalmente”, diz. Até para aquelas que são aparentemente mais complexas, como encontrar um propósito de vida e, de quebra, conseguir alinhá-lo com uma carreira. “Está ficando cada vez mais insuportável você precisar ser uma pessoa durante o expediente e outra fora dele”, afirma. E a busca é eterna. Nossa dica? É melhor começar já.
CRISES MÚLTIPLAS
“Vivemos uma crise social. A gente ainda não aprendeu a viver em harmonia, compartilhar os recursos do planeta e garantir direitos básicos para todos. Vivemos uma outra crise decorrente da nossa desconexão com os sistemas naturais dos quais dependemos para viver. E outra espiritual que nega a relação que temos com nós mesmos. Entendendo isso, precisamos fazer um resgate do que é ser humano e agir – logo.”
CONSUMO CONSCIENTE
“É entender de onde vem e para onde vai. De onde vem: a procedência, a composição, a energia que está por trás daquilo. Já para onde vai pressupõe que exista algum resíduo desse consumo, seja o descarte de uma embalagem, seja o impacto que um alimento tem no seu próprio corpo. Uma decisão de consumo consciente pode ser, eventualmente, fumar um cigarro. Não é saudável, mas pode ser consciente a partir do momento que a pessoa entende do que aquilo se trata. Consciência há, até de sobra, mas o que há também é um desamor pela vida no planeta.”
24 HORAS POR DIA
“Está ficando cada vez mais insuportável ser uma pessoa durante o expediente e outra fora. Pra mim, foi um processo que se desencadeou em função de um desalinhamento entre o profissional e o pessoal maior do que eu conseguia sustentar. E ele foi acelerado por um reconhecimento do nosso trabalho na Mandalah e no senso de responsabilidade que isso me trouxe para garantir que, na medida do possível, eu pudesse defender os valores que propagamos para o mercado. É um trabalho árduo, constante e sem fim. Sempre tem margem para melhora.”
VIDA COM PROPÓSITO
“Se a atual euforia em torno de ‘propósito’ representa um caminho sem volta eu não tenho certeza, mas é um reflexo dos tempos que estamos vivendo. A crise ambiental é resultado de décadas de um modus operandi que desconsidera os impactos ambientais dos processos produtivos da economia. O grau de conflitos pelo mundo representa o descuido com o próximo. E aí vem essa busca por propósito, como uma forma de remediar ou amenizar o estrago que as gerações anteriores vêm deixando.”
DE DENTRO PARA FORA
“Criatividade não se ensina, é algo que se vivencia. É reflexo do repertório dentro de você. Repertório esse que é composto e alimentado pelas pessoas que passam pela sua vida e pelos lugares que você frequenta, e como você absorve tudo isso. Então ela é, simplesmente, a devolutiva para o mundo a partir de tudo o que você experimentou.”